E por que não? É possível? E se fosse…? Como seria? São perguntas como essas que fizeram o mundo girar e conduziram a humanidade por um processo de evolução no qual vivemos até os dias de hoje. Talvez, não fosse por isso, o pensamento coletivo não teria sido estimulado e possivelmente estaríamos ainda vivendo na Idade da Pedra.
O que orienta o nosso cérebro a fazer estes questionamentos chama-se Criatividade. É a busca pelo novo, por aquilo que é diferente, por novas soluções.
A criatividade pode ser considerada uma reação natural à uma necessidade específica, sendo uma ferramenta eficaz para a solução de problemas. Embora não seja comum na construção criativa da música ter espaços para problemas, por se tratar de uma arte baseada em uma sequência estruturada de sons, a criação de novos caminhos é uma busca constante movida pelo desejo de inovar.
Esse padrão mental, que constantemente procura novos caminhos, faz com que o foco seja a solução, nos afastando muitas vezes de possíveis problemas que poderiam vir a cruzar nosso caminho.
Esse mecanismo acontece porque o ser humano é de fato essencialmente criativo. A criatividade está na nossa essência.
Mas se somos definitivamente seres criativos, porque então alguns são mais criativos que outros?
A resposta está em um dos conceitos básicos da criatividade. Embora a pergunta acima seja recorrente, é importante dizer que ela foi mal formulada, pois o correto seria dizer: por que algumas pessoas estão mais criativas do que outras?
Algumas pessoas estão mais criativas que outras porque respondem de forma diferente aos mais variados estímulos à criatividade, tais como a influência do ambiente, cultura, estado emocional, saúde, humor, estresse, contexto social e inclusive fatores econômicos entre outros. Todos eles podem facilitar ou bloquear o estado criativo.
A educação formal em nosso país é um dos exemplos de bloqueios à criatividade. Nossos professores, verdadeiros heróis, por uma obrigatoriedade do currículo escolar, realizam malabarismos para compartilhar um universo de conhecimentos organizados em matérias que muitas vezes não se “comunicam” entre si, ou ainda, não representam uma realidade ou necessidade atual de seus alunos.
Não bastassem os bloqueios, há também alguns paradigmas envolvendo a Criatividade, inclusive na música, e que precisam ser considerados.
Muitas pessoas acreditam que a composição é um grande momento “Eureka”, no qual o compositor, favorecido por um dom reservado a poucos iluminados, passa a combinar notas e pausas de forma simultânea com a construção de uma sequência de frases e palavras.
Embora possa haver raros momentos de criação musical espontânea, em que o compositor parece ter em sua mente uma composição praticamente pronta, certo é que a realidade que conhecemos está bem distante disso. Não fosse assim, não teríamos atualmente o estudo aprofundado de composição em faculdades de música.
Desta forma, não é justo, nem tampouco correto, resumir a criatividade musical a um momento repentino de inspiração, no qual o compositor fica refém de algum estímulo externo que está além do seu controle. É preciso compreender a criatividade como um processo que requer muito além da inspiração.
Muitos autores destacam fases distintas do processo criativo. No entanto, podemos resumir este processo em 4 etapas básicas:
- Preparação: é a observação ou contemplação de um determinado problema ou situação. É o momento em que a imaginação percorre diversos caminhos, livre de quaisquer julgamentos.
- Incubação: nesta etapa a parte consciente deixa de atuar no processo criativo e abre as portas da mente inconsciente para que novas conexões aconteçam.
- Iluminação:..! É isso, como não havia pensado nisso antes? Esse é o sentimento que nos acompanha quando experimentamos este momento. É como se um facho de luz iluminasse uma porção ainda não explorada do inconsciente, fazendo com que uma ideia adormecida tome forma e passe a ter algum sentido.
- Verificação: Não basta ter uma grande ideia. Ela precisa ser útil e realizável.
Podemos ser criativos para nós, encontrando soluções para o nosso dia a dia. Mas para saber se estamos diante de uma grande ideia, é preciso que ela passe pelo crivo da sociedade.
A verificação é uma espécie de avaliação da qualidade dessa ideia.
A diferença observada no Padrão Mental da Música é a prática de um processo criativo que vivencia as 4 etapas de forma simultânea, como se cada uma delas fosse uma ferramenta de busca por novos caminhos, e não uma etapa isolada na construção criativa.
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