Talvez este não fosse o melhor programa de diversão para uma criança de dez anos, mas eu tinha comigo que no mínimo, alguma curiosidade musical iria conseguir despertar.
E lá estávamos, eu e minha filha, na Sala São Paulo. Sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e um verdadeiro templo para aqueles que querem apreciar as sensações que os modernos conceitos da acústica são capazes de produzir.
Fomos assistir a um concerto de uma das peças musicais infantis mais famosas do século XX, “Pedro e o Lobo”, do compositor russo Sergei Prokofiev.
Assim que os músicos entraram foram recebidos com muitos aplausos. Na plateia, adultos e crianças, todos ansiosos por uma experiência musical repleta de sons e fantasias.
Enquanto a história se desenrolava naquele maravilhoso palco, os músicos faziam a trilha sonora para embalar cada personagem. Achei que minha filha pudesse querer conhecer alguns detalhes do espetáculo e passei a explicar algumas curiosidades.
– Ao lado esquerdo estão os violinos, com um som agudo e intenso. Eles representam Pedro, o personagem principal, disse à ela. À frente está a flauta transversal, tocando notas rápidas, com um som doce e leve, faz o papel do pássaro. O clarinete, é o gato. As trompas representam o lobo, e os tímpanos, os caçadores.
Podia perceber em seus olhos o encanto com aquela orquestra que estava à sua frente. Eram muitas novidades, uma mistura de sons e emoções, envolvidos por uma história que prendia a atenção de todos!
Foi então que ela me perguntou: e aquele que fica em frente aos músicos, mexendo os braços para todos os lados?
– É o maestro. Ele colabora para que todos os músicos toquem os instrumentos no momento certo para que a música aconteça.
– Entendi. Mas que tipo de som ele faz nesta história?
Naquele momento, lembrei das palavras do maestro Benjamin Zander, falando do modelo de liderança deste profissional, que está lá não apenas com o objetivo de conduzir os músicos, mas sim de inspirar as pessoas.
E com essa pergunta, feita por uma criança, me fez refletir sobre o verdadeiro papel deste líder frente à sua orquestra. Algumas inquietações surgiram, como por exemplo: seria possível estabelecer uma relação entre música e liderança?
Sim, entendo a música como sendo um fenômeno sócio-econômico-cultural. Para compreendê-la é preciso antes compreender a condição social, cultural e econômica do cenário em que essa música está inserida. É preciso conhecer e entender as pessoas que a escutam. Sendo assim, podemos dizer que não existe música boa ou ruim. O que existe é a música fora do seu contexto.
E isso ocorre da mesma forma ocorre com a liderança. Ela é contextualizada, é situacional. Não há como apontar qual o melhor modelo de liderança, pois o modelo ideal irá depender do contexto sócio-econômico-cultural de cada equipe.
Mas afinal, qual é o papel deste líder nesta história toda? O maestro não é exatamente o profissional que contribui com a sua equipe tocando algum instrumento, embora existam alguns, como André Rieu, com seu famoso violino Stradivarius, que executa belíssimas obras de Strauss ao lado de sua orquestra.
Trata-se de um líder que trabalha junto a uma equipe de alta performance, com profissionais altamente preparados e qualificados. Eles executam seu trabalho com uma margem de erro próxima a zero.
É claro que seu trabalho vai muito além de descobrir talentos e fazer com que seus músicos toquem harmoniosamente. Seu principal objetivo é alcançar o melhor som.
E a pergunta que faço é a seguinte: onde está o melhor som? Certamente não está nas notas musicais, nos instrumentos, na melodia de uma bela canção e tampouco nos músicos. Está na alma do coletivo da sua equipe.
Para alcançar a alma da sua equipe é preciso desenvolver as competências associadas ao estado mais equilibrado de sua inteligência emocional.
Segundo Daniel Goleman, os domínios da inteligência emocional estão divididos em quatro grupos, cada qual com algumas competências necessárias, que são os seguintes: Consciência de si mesmo (autoconhecimento, autoconfiança e a consciência emocional). Consciência social, que é a visão sistêmica da consciência organizacional (empresa, clientes externos e internos); autocontrole emocional e destreza social.
Desta forma, para se tornar um líder como este, um maestro que encontra o melhor som, o melhor resultado, é necessário não apenas saber onde quer chegar, mas é preciso saber o caminho, o talento, o potencial, os medos e os sonhos de cada um, e principalmente conhecer as pessoas que estarão ao seu lado quando você chegar lá!
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